A desejável interdisciplinaridade

A Interdisciplinaridade não é apenas um nome bonitinho para formar uma sigla mais musical do PPGICS. Para trazer o conceito a realidade, o Programa não poupa esforços: além de nos atolar em textos e martelar o conceito em classe, cada disciplina neste primeiro semestre é na verdade uma “inter-disciplina”, compostas por um professor de cada linha do programa (são duas).

Por achar que seria tarefa fácil (#brinks), resolvi agregar mais um componente na minha equação particular. Pois além de Saúde, Informação e Comunicação, meu tema namora fortemente a área Ambiental. Pelos textos lidos nessas duas primeiras semanas de aula, na real, estamos em um cenário de  “onde os fracos não tem vez”. Afinal, ser interdisciplinar é superar paradigmas e nossa tendência a compartimentar para melhor compreender a realidade.

A visão sistêmica não é só desejável, como bem necessária nesse mundo de especialistas que não enxergam para além de suas caixinhas. As Mudanças Climáticas, por exemplo, representam um desafio não apenas para os ambientalistas, mas para os médicos, agricultores, economistas, gestores e etc, que devem conviver com modificações drásticas em suas áreas nos próximos capítulos.

Definição

Para brincar de incorporar um olhar mais global, nada melhor do que um pouquinho de teoria. Ao discorrer sobre a Ciência da Informação, campo que já nasce interdisciplinar tal qual era “originalmente” as Ciências Sociais, Pinheiro (2007) traz alguns conceitos interessantes sobre a interdisciplinaridade:

“(…) a pesquisa interdisciplinar se faz ‘das aproximações, das interações e dos métodos comuns às diversas especialidades’.
Entre as motivações do projeto interdisciplinar, tanto intelectuais quanto afetivas, a primeira é oriunda do próprio desenvolvimento da ciência, isto é, ‘da necessidade de criar um fundamento ao surgimento de novas disciplinas’. A interdisciplinaridade ‘se afirma como reflexão epistemológica sobre a divisão do saber em disciplinas para extrair suas relações de interdependência e de conexões recíprocas’. Sua ‘grande esperança’ é a ‘renovação e mudança no domínio da metodologia das ciências humanas’  e seu ‘objetivo ideal’ é ‘descobrir as leis estruturais de sua constituição e funcionamento – seu denominador comum (JAPIASSU, 1976, P. 55-36)”

Pinheiro aponta ainda que Japiassu considera quatro exigências para o exercício interdisciplinar:

  1.  É indispensável que a interdisciplinaridade esteja fundida sobre a competência de cada especialista;
  2. Cada especialista deve reconhecer o “caráter parcial e relativo de sua própria disciplina, de seu enfoque, cujo ponto de vista é sempre particular e restritivo”;
  3. É necessário “polarizar o trabalho interdisciplinar sobre pesquisas teórica sou aplicadas, com vistas a resolver determinado problema social ou institucional com o concurso de várias disciplinas a ele concernentes”;
  4.  “A quarta exigência que se impõe ao trabalho interdisciplinar converte-se numa necessidade de ultrapassagem ou de superação. É preciso que os pesquisadores superem, mas sem negá-las, porque fazem delas etapas prévias indispensáveis, as outras modalidades de colaboração”.

Ps¹ Japiassu conta, através de Pinheiro, que, para começo de conversa, nos tornamos “disciplinares” lá na Grécia Antiga, a tempo da instauração do saber racional. Queria muito poder explicar como isso aconteceu tão bem quanto o filósofo Fernando Telles na magnífica aula inaugural que ele nos deu na “disciplina” Seminários I semana passada. Por ora, ficamos com a minha versão simplória, conjugada com a de Japiassu: o método da razão pura surgiu com os primeiros filósofos de Mileto na tentativa de separar a “mito-logia”. A ideia era encontrar a verdade última das coisas (o que os jônios denominaram de arché). Embora por essa época  a ciência tenha surgido já compartimentada, Japiassu explica que as disciplinas articulavam entre si, “complementavam-se, formando um todo harmônico unitário”. A ideia das especializações, “verdadeiras cancerizações epistemológicas” para ele, só ocorreu no Século XIX. Não é à toa que, quiçá todo o avanço tecnológico, “gênios do todo”, como o foi Da Vinci, não andam perambulando por aí.

Ps² Notem que, apesar da atualidade, os conceitos de Japiassu têm quase 40 anos (lol).

PINHEIRO,  L. V. R.  Pilares conceituais para mapeamento do território epistemológico da ciência da informação: disciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e aplicações. In : PINTO, V. G. CAVALCANTE, L. E. (Org.) Ciência da Informação: abordagens transdisciplinares, gêneses e aplicações. Fortaleza : UFC, 2007. p. 71-105